quinta-feira, 22 de outubro de 2009

Pedra Antiga

A espuma brilhante e sonora
veio sob a brisa, indestrutível e bela
tangendo meu corpo, movendo meus olhos
fazendo-me nau com vestes de vela.
.
Diante do mar ao abraçar o universo
meus pés atolaram em pedra antiga
a onda se foi e deixou submerso
o espírito jovem do amor de cantiga.
.
Vi-me passado grão que outrora foi tempo
"Mas a liberdade é o horizonte!"
e eu quis ser vento
.
E ao mirar o vão da sensação de um instante
Desenterrei minha alma das pedras de ontem
e segui sozinho, liberto e errante.

Sobre Muros, abismos e exageros

Sim, sou puxado a exageros. Dramas? Mais ou menos isso. É nessa linha.


Ela foi clara: “é, o muro existe. muro-escudo, muro-bússola, muro-sombra: às vezes fresco às vezes escuro”.

Cresci pulando muros. Desenvolvi uma habilidade impar para fazê-lo e também para as quedas. Cair de um muro exige mais do que azar. Exige técnica. Cair rolando, não deixar a cabeça encontrar o chão, proteger de cá e de lá são os desafios.

Subi nele e assustei com sua altura dos dois lados. Engraçado isso, o muro tem altura diferente dos dois lados. Dessa vez, do meu lado esta bem alto.

Comentei que sempre soubera da existência desse muro. Ora aparentava mais um muro-lugar - sombra, proteção, bússula, ora um muro defesa - esconderijo, refúgio e caverna. Um muro dela.
Ela tem razão, a vida é perigosa, já dizia Riobaldo nas caminhadas nesse mundão a fora.

Como dizia, na infância aprendi com muito tombo, que muro era uma barreira. Mas não intransponível. Se o fosse não seria muro, ao menos na minha cabeça. Porque muro enseja obstáculo, mas não algo intransponível. Daí aprendi a pular, e como as pernas não cresceram tanto, nem o tórax, só um pouco mais a cabeça, foi forçoso aprender técnicas e pular, pular, pular. Ora batendo a mão e pá; ora com apoio de uma árvore; ora com uma escadinha amiga; as vezes ia mas não conseguia voltar - riscos da vida; noutras pulava bem do lado de cá, mas caia do lado de lá. Tombos, quedas, esfolões. Histórias.
Por vezes o que tinha do outro lado era nada mais do que um outro lado, separado pelo muro. Noutras tantas tinha protetores fiéis “do outro lado do muro”, cães que ladravam e as vezes mordiam. Daí era desenvolver a capacidade de pular, não cair e correr.

Coisas que sofre quem se aventura... em pular os muros e dificuldades da vida, desde os mais baixos. Já dizia minha avó, sábia que só, só leva queda quem caminha. Só cai do muro quem tenta pular.


Muitas vezes a vida nos coloca obstáculos. Essa mulher me colocou um imenso. Um muro alto, alto. Do lado de cá era uma altura só. Do lado de lá era um abismo. Minha coragem se assanhou, estiquei o braço, peguei apoio, contei com a sorte. Ia chegando perto do cume e o muro ia aumentando. Ai não vale. E a distância do outro lado parecia aumentar ainda mais.

Ela aproveitou meu descuido e tirou o apoio. Quase cai, dessa vez me segurei. Deu um sorriso. Sugeriu minha volta.

Desista, disse ela em tom provocativo.

Queria me convencer da altura, do risco. Queria me mostrar que não havia um muro, mas uma barreira. Um bloqueio. Um imenso muro e do outro lado um abismo. Foi amiga em me recomendar a volta. Foi fria em me sugerir não tentar. Foi dura em olhar bem nos meus olhos, sorrir e pedir para não me cansar. E seguir meu caminho.

Exageros são normais. Mas um fim é sempre um fim. Como posso pensar que foi um fim algo que nem começo teve? Daí o nosso lado dramático e exagerado assume o comando e dá o tom. Agora é voltar, limpar a roupa marcada pelas tentativas, anotar no caderninho que não desisti sem tentar e seguir caminho. Qual caminho, se o meu caminho passava por aquele muro alto? Passava por caminhar marcando pegadas, seguindo as dela....

ronaldo - 19, out, 09